12 - PAS 3 - Poema 'Quintal' de Meimei
Oi, gente.
Abaixo, mais um poema elencado pela UnB para o PAS 3 / 2025. Seu título é Quintal e foi escrito por Meimei Bastos. Esse e outros poemas da autora podem ser lidos no link a seguir:
https://medium.com/@meimei.bastos
Abaixo, o poema Quintal.
Quintal
Meimei
quando eu era pequena e só sentia bom quintal, ruim briga, e brincava de
tatu bolinha comendo bananinha de trevo de quatro folhas, azedinha, até a
Lua aparecer e, meu paraíso virar céu inteiro. nesse tempo, não sabia que
o lugar onde eu vivia tinha nome, causa e classe. era só quando saía, várias
distâncias em horas de baú, que percebia, na rua asfaltada, casas rebocadas,
gente vestindo roupa de sair em casa, que o canto onde minha casa pousava,
era diferente!
minha mãe dando faxina, minha mão coçando pra malinar. meu olho desa-
costumado com tanta parede pintada, água encanada, com um quarto só de
livro, outro só de brinquedo. puxa! eu, não entendia. por que ali tinha e lá não?
hoje eu sei, mas ainda não aceito.
alegria quando tomava o Danone que a dona dava e, dizia: que menina inteli-
gente! cuidado pra não se perder! ‘pessoa de bem’, fazendo sua parte, cum-
prindo sua cota de caridade.
dizia isso porque não sabia, que eu já era graduada na vida, daquele tamani-
nho, eu já cuidava dos meus irmãos e sobrinho, que eu já tinha ouvido mais
de várias vezes no dia tiro, que já tinha vizinho finado de bala, que lá antes de
nós nascer já tinha perdido um bocado de liberdade e direitos. ela dizia pra
eu não me perder! o quê, dona? ainda tem mais pra perder? hoje eu sei. se
nós não cuidar, têm eles sempre dão um jeito de tirar mais.
era minha mãe acabar de passar as roupas e a gente ia embora. eu ficava
contando estrada. logo depois do balão que tinha um periquito, eu sabia que
tava perto. na entrada, morava uma santa, que o povo chamava de Maria,
Santa Maria.
quando chegava em casa, via meus irmãos, o Brendinho. dividia os biscoitos
que minha mãe tinha me dado pra comer no caminho, corria pro quintal e
ia ver o céu. pedia pra maminha temperar a água pra eu banhar, ali mesmo
na bacia, no terreiro. aí, eu imaginava que o teto da minha casa era todo de
estrelinhas...
e era.
Sobre a autora, Meimei Camila Silveira Alves Bastos (Ceilândia, 1991) é escritora, poeta, licenciada em Artes Cênicas, pela Universidade de Brasília, educadora, produtora cultural, atriz e coordenadora do Slam Q’BRADA. Premiada pela Secretaria de Estado e Cultura do Distrito Federal em 2018 com o prêmio de Cultura e Cidadania, na categoria Equidade de Gênero. Como autora e poeta participou de eventos literários como a Festa Literária de Paraty – Flip, Feria Internacional del Libro de Venezuela – FILVEN, Bienal do Livro e da Literatura de Brasília -BBLL e outros. Publicou seu primeiro livro, Um verso e mei, Editora Malê, em 2017. Em janeiro de 2025, a artista lançou seu videocast Sangue de Free, disponível no Youtube, para divulgar a história do Hip Hop na cidade.
Sobre o poema, possui estrutura narrativa e apresenta, em primeira pessoa, as experiências de vida dela mesma (provavelmente quando adolescente) em companhia da mãe nos afazeres profissionais, a própria rotina no contexto de seu lar e sobre os elogios que recebia da patroa de sua mãe.
Em relação à linguagem, predomina o coloquial com a estrutura sintática típica do tipo escreve-se conforme falamos. Isso explica a pontuação deficiente e a carência dos recursos ligados à coesão e à coerência textuais.
Para refletir.
a) O que pode explicar a opção pela linguagem coloquial e com estrutura sintática deficiente na produção da sua narrativa, tendo o assunto como referencial?
b) Como a narradora enxerga sua experiência quando criança? Já havia um retrato fiel da realidade ou uma romantização da realidade? Justifique.
Boa leitura.
Bom estudo.
Fernando Fernandes
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