21 - Reposição de conteúdo 2 de 4 - semana 16 a 20 de junho de 2025


     Olá, gente.

    Esta publicação apresenta o que foi ministrado entre os dias 16  e 20 de junho de forma presencial no colégio.

    O único texto da semana está publicado abaixo, cujo título é 'Poética', da autoria de Manuel Bandeira. Foi publicado em 1930 na obra Libertinagem. O poema servirá para, além de um bate-papo sobre a vida e apresentar concepções no fazer poético adotado pelos modernistas da primeira geração.


Texto 1 
Poética 
(Manuel Bandeira) 

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.


 Algumas considerações.


Em relação ao texto 1, com  leitura feita em sala de aula, o eu lírico apresenta duas concepções de lirismo, isto é, dois olhares sobre o fazer poético. Nesse sentido, um deles é fortemente rejeitado e o outro, desejado com tal intensidade que passa a significar a própria libertação para ele. 

No primeiro bloco, quando o eu lírico afirma que está farto do lirismo comedido, ele rejeita o fazer poético vinculado a uma tradição literária que, para ele, é caracterizado pela rotina, pela previsibilidade, pela mesmice. A relação desse comedimento à rotina de um funcionário público metaforiza essa condição de repetitividade no fazer poético pautado pela tradição.

No segundo bloco, quando os puristas, os barbarismos universais, a sintaxe de exceção, os ritmos sobretudo inumeráveis e a própria busca de palavras são rejeitados pelo eu lírico, a estrutura poética tradicional é evidenciada. Por exemplo, a formatação típica de um soneto (dois quartetos e dois tercetos, versos decassílabos, rimas rígidas, vocabulário rebuscado e assuntos específicos) revela o desprezo do eu lírico pela atitude típica de um purista da língua ou, por que não, de um purista da literatura.

No terceiro bloco, quando o lirismo namorador, político, raquítico e sifilítico são rejeitados, na verdade, o eu lírico rejeita um lirismo específico, como se houvesse arte para determinados grupos e para outros, não; ou que há temas apropriados e inapropriados para o fazer poético. Na verdade, todo o lirismo é bem acolhido.

No quarto bloco, quando o eu lírico rejeita o lirismo tabela de cossenos e de modelo de cartas pré-existentes, a rejeição, na verdade, é para rejeitar uma mesmice ou mecanização no fazer poético.

No quinto e último bloco, o eu lírico, finalmente, revela sua opção pelo lirismo dos bêbados, pelo lirismo dos loucos, pelo lirismo clowns de Shakespeare. Nessa ótica, a opção do eu lírico revela sua o pela preferência pela não convenção literária. Loucos e bêbados se comportam de forma a ignorar as regras sociais. E é exatamente essa falta de comportamento social relacionado ao fazer poético é a proposta dos modernistas de forma geral. É como Mário de Andrade afirmou: Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi.

Por fim, o poema apresenta uma crítica ao fazer poético tradicional em geral e aos parnasianos em particular, pois estes privilegiavam a estrutura, vocabulário e formatação poética (lirismo comedido) e, ao mesmo tempo, apresenta a preferência pelo fazer poético inovador, fruto da concepção literária apregoada pela Semana de 1922, caracterizado pela liberdade temática, vocabular, estrutural e linguística.


Uma provocação final para você:

1) Você é o tipo de pessoa apegada a tradições ou é aquele tipo de pessoa que age sempre de diferentes maneiras?

2) Na sua opinião, os textos poéticos precisam, obrigatoriamente, apresentar rimas e métrica rígida?

3) Na sua opinião, qualquer tema serve como inspiração para a composição de poemas? 

Boa leitura.
Bom estudo.
Fernando Fernandes

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