22 - Reposição de conteúdo 3 de 4 - semana 23 a 27 de junho de 2025

 




Olá, gente.

    Esta publicação apresenta o que foi ministrado entre os dias 23 e 27 de junho de forma presencial no colégio.

    Ambos os poemas são da autoria de Manuel Bandeira, ambos versam sobre a efemeridade da vida e essa foi a abordagem feita em sala.

   Leiamos os poemas.


Texto 1 
Momento num café (1931)
(Manuel Bandeira) 

Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.

Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.


Texto 2 
Consoada (1953)
(Manuel Bandeira) 

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável), 
talvez eu tenha medo. 
Talvez sorria, ou diga: 
- Alô, iniludível! 
O meu dia foi bom, pode a noite descer. 
(A noite com os seus sortilégios.) 
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, 
A mesa posta, 
Com cada coisa em seu lugar. 

 Algumas considerações.


Em relação ao texto 1, com  leitura feita em sala de aula, o eu lírico apresenta duas concepções relativas à finitude, isto é, dois olhares sobre a nossa passagem pela Terra., Essas diferenças são facilmente percebidas pela diferença na atitude de um grupo de pessoas que estão em um café ao passar um cortejo fúnebre.

O subgrupo que corresponde a maioria dos frequentadores daquele estabelecimento comercial, eles reagiram de forma instintiva, automática, mecânica ao retirarem seus chapéus para demonstrar respeito ao falecido e aos familiares. Na verdade, esse mecanicismo se justifica porque, naquele instante específico, aqueles clientes estavam focados nos seus projetos, nos seus planos, nos seus sonhos presentes ou futuros. É como se a finitude não fizesse parte da consciência coletiva do grupo naquele exto instante.

Por outro lado, um único frequentador forma o outro sub-grupo. Esse cliente, esse único cliente demonstrou empatia, respeito, solidariedade ao falecido e aos familiares pela maneira como ele se descobriu, retirou seu chapéu. Com gesto largo, demorado e olhar longo para o esquife, a certeza de que a vida é passageira, é breve, é peçonhenta, é finita é presente dentro do próprio coração e alma.


Em relação ao texto 2 o eu lírico descreve sua tranquilidade e, ao mesmo tempo, imprecisão em relação ao futuro e certo encontro com a Indesejada das gentes.  Tranquilidade porque o eu lírico se sente preparado para esse momento ao afirmar, no final do poema, que seu dia foi bom e a noite pode descer porque nesse encontro, a casa estará arrumada, o campo estará lavrado e a mesa posta para a recepção para que a consoada (pequena refeição leve) seja servida ao convidado. Já a imprecisão em relação ao encontro com a morte se apresenta no seguinte contexto. Por mais que o eu lírico se sinta pronto para esse encontro, o fato de não saber quando será e como será são os fatos geradores dessa imprecisão. Em resumo, a falta de dados concretos de quando e como será esse encontro não significa falta de preparo. Pelo contrário, revela vigilância.

Ao confrontar as atitudes dos frequentadores do café no primeiro poema e a atitude do eu lírico no segundo poema, é perceptível que a atitude daquele único frequentador do café está alinhada à postura  da voz poética deste poema. Ambos sabem que a vida é breve, é passageira e terá um final. Daí, a necessidade de organizar nosso cotidiano para que, quando esse encontro se realizar, que seja da forma menos dolorida e traumática.


Uma provocação final para você:

1) Você tem deixado para depois atitudes que já deveriam estar concluídas, resolvidas, findas? Por exemplo, pedir perdão a alguém, cumprir uma promessa esquecida, declarar admiração a alguém?

2) Você considera importante que, dentro da família, todos saibam sobre tudo em relação a projetos, decisões, dívidas? Nesse sentido, esse compartilhar significa ou não exemplo de preparo para o encontro com a Indesejada das gentes, ainda que não saibamos onde, quando e em que lugar acontecerá?

Boa leitura.
Bom estudo.
Fernando Fernandes

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