23 - Reposição de conteúdo 4 de 4 - semana 23 a 27 de junho de 2025




 Olá, gente.

    Esta publicação também apresenta o que foi ministrado entre os dias 23 e 27 de junho de forma presencial no colégio.

    Ambos os poemas são da autoria de Oswald de Andrade e ambos versam sobre a visão dos modernistas da primeira geração em relação à linguagem a ser adotada naquele contexto ao fazer poético.

   Leiamos os poemas.

Texto 1 
Vício na fala (1925)
(Oswald de Andrade) 

Para dizerem milho dizem mio 
Para melhor dizem mió 
Para pior pió Para telha dizem teia 
Para telhado dizem teiado 
E vão fazendo telhados


Texto 2 
Pronominais (1925)
(Oswald de Andrade) 

Dê-me um cigarro 
Diz a gramática 
Do professor e do aluno 
E do mulato sabido 
Mas do bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira 
Dizem todos os dias 
Deixa disso camarada 
Me dá um cigarro

 
Algumas considerações.

Ambos os poemas fazem parte da obra Pau-Brasil e, dentro dos pressupostos modernistas, há projeto de uma literatura em que falar e escrever em brasileiro seja uma realidade a ponto de aproximar o trio autor / obra / leitor. 

Em relação ao texto 1, há um conflito entre os níveis de fala. Entre o que conhecemos como nível de fala coloquial/regional e o nível culto, há um hiato. Qualquer criança que esteja nos anos iniciais de estudo, certamente terá sua fala corrigida caso pronuncie mio ao invés de milho / mió ao invés de melhor / teiado ao invés de telhado. 

Na literatura, os modernistas ligados à Semana e à primeira geração já criticavam duramente o fazer poético pautado no planejamento, vocabulário rebuscado, estrutura poética / narrativa sofisticada, aparato sintático praticamente inacessível ao leitor comum. O poema, nas entrelinhas, é uma crítica a esse lirismo, visto como comportado, protocolar.  As diferentes possibilidades de registro de um mesmo vocábulo, segundo os modernistas da primeira fase, não impede a compreensão literária. A transgressão à norma culta não impede a fruição literária. O linguajar corriqueiro e cotidiano não são justificativas para que o fazer poético seja de segunda qualidade.

Em relação ao texto 2, o raciocínio é o mesmo. O eu lírico, ao propor a utilização da forma popular Me dá um cigarro em início de oração, na verdade propõe que a linguagem literária esteja mais próxima do leitor e que a presença da variante coloquial não desqualifica a literatura. Além disso, reconhece que a forma gramaticalmente correta Dá-me um cigarro  em início de oração soa artificial, longe das pessoas.

Por fim, ambos os poemas propõem um rompimento na barreira linguística que, de alguma forma, categoriza os usuários da língua quando, na verdade, todos exercemos a capacidade comunicativa e interativa tendo com base o mesmo idioma. 

Abaixo, deixo dois links com artigos acadêmicos sobre o assunto. 


A) Link direto para artigo publicado por Linguagem em (dis)curso com o seguinte título: A construção da  língua entre telhados e teiados: uma leitura de 'Vício na Fala' de Oswald de Andrade. 

B) Link direto para artigo publicado pela Universidade Unigranrio com o seguinte título: Pronominais: Contribuição oswaldiana para a constituição de uma identidade linguística nacional no contexto do início do século XX.


Para refletir.

1) Até que ponto a identidade linguística é determinante para que o falante faça ou deixe de fazer algo inerente à sua capacidade? Sua ética, compromisso com a verdade ou capacitação profissional dependem, obrigatoriamente, do domínio de uma determinada variante linguística? 

2) Como apresentar a norma culta ao recém ingresso no sistema escolar sem estigmatizá-lo?

Boa leitura.
Bom estudo.
Fernando Fernandes

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